Resultados
A partir dos objetivos propostos, realizamos uma análise acerca das dificuldades dos trabalhadores com Deficiência Física, sua relação com os outros profissionais e a respeito de como esse profissional se sente em relação aos não portadores de Deficiência Física.
A amostra foi composta por 10 pessoas, sendo que 5 apresentavam algum tipo de deficiência física e o restante não possuíam nenhum tipo de necessidade especial.
Primeiramente, em relação aos trabalhadores com alguma deficiência física, observou-se que um dos entrevistados ressalta que dentro da própria empresa existem barreiras físicas que impedem a sua locomoção, como por exemplo: a ausência de rampas, ausência de banheiros no local, buracos, valas expostas. O entrevistado enfatiza a não valorização do deficiente na empresa e não tem expectativa nenhuma em relação à promoção de cargo, “(…) não há possibilidade a não ser que você faça faculdade, mas ainda assim será difícil... quem é promovido não é deficiente”.
Um outro entrevistado afirma que a sua deficiência, foi uma atrofia no fêmur adquirida através de uma infecção hospitalar. Sua maior dificuldade é a de locomoção no Viveiro, pelo fato do local ser muito extenso. A sugestão dada pelo entrevistado foi a de adaptar o local de acordo com a deficiência de cada um. Ele se mostrou seguro em seu discurso, e acrescentou ainda que a qualidade do trabalho de um deficiente comparada com a de um não deficiente é a mesma, e ainda disse que não tem interesse em ser promovido no trabalho.
O terceiro entrevistado é portador de deficiência visual e relatou que era bastante difícil no início, e citou que as principais dificuldades que tem é a de se locomover, estudar, trabalhar e até mesmo falar com as pessoas. Entrou na empresa pelas vagas de inclusão do deficiente físico através de concurso público, da mesma forma que a maioria dos outros. Ele afirma que no começo tinha dificuldade de locomoção, mas que atualmente tem o mapa da empresa todo na cabeça. Ele considera que tanto os profissionais portadores de deficiência, quanto os não portadores, são cobrados da mesma forma, mas afirma: “eu preciso trabalhar mais para mostrar a minha capacidade”. Em relação à promoção de cargo, só existem promessas.
Os dois últimos entrevistados portadores de deficiência física, também destacam o problema com a locomoção dentro da empresa, devido à grande extensão do local. Um deles afirmou que apesar de gostar muito do seu trabalho, não se sente tão valorizado na empresa e disse que o deficiente tem uma tarefa adequada ao seu tipo de deficiência, enquanto uma pessoa normal tem outro ritmo de trabalho. O último entrevistado, afirmou que o fato de ele possuir deficiência física, nunca foi empecilho para a realização de suas atividades. Afirmou que para chegar ao trabalho não encontra nenhuma dificuldade, mas reclamou das péssimas condições do transporte coletivo no DF. Com relação ao ambiente de trabalho, ele se sente igual aos outros funcionários, afirmou: “tudo fica somente na brincadeira”, e há a valorização do trabalho desempenhado, pelo chefe do local.
Em relação aos 5 entrevistados não portadores de deficiência, eles acham interessante a política de inclusão dos deficientes na empresa. Afirmam que os profissionais com deficiência são cobrados da mesma forma. Um deles disse que na relação entre os profissionais portadores de deficiência e os não portadores, “tem uns ‘normais’ que fazem brincadeira de mau gosto, os ‘normais’ se acham os chefes dos deficientes. O preconceito existe e comparando a uma escala de 100%, corresponderia a 30%”.
Um entrevistado disse que há valorização do trabalho dos profissionais portadores de deficiência, enquanto que uma entrevistada mostrou-se apreensiva, e demonstrou medo ao responder a essa pergunta. No geral, há um consenso de que o trabalho não é tão valorizado quanto deveria.
Eles afirmaram que a qualidade do serviço prestado é a mesma e que normalmente não há dificuldade de convivência entre os profissionais, mesmo porque trabalham 8 horas juntos.
Durante os discursos, dos profissionais portadores de deficiência, fica claro que manter-se dentro de um campo de trabalho requer do trabalhador portador de deficiência, superações diárias. É necessário o enfrentamento dos condicionantes físicos e sociais que se evidenciam desde o percurso casa-trabalho, e dentro do próprio ambiente laboral, tanto nas questões de acessibilidade quanto nas relações entre profissionais da empresa.
O profissional portador de deficiência física não se atém às crenças que são geradas, comumente, no âmbito social em relação à inferiorização da capacidade física e até intelectual do deficiente físico no campo do trabalho. Os entrevistados portadores de deficiência reconhecem o seu próprio valor, como profissionais dentro da empresa. Os direitos e deveres são os mesmos para todos, mas é ressaltado que muitas vezes o deficiente tem que esforçar-se além do normal para mostrar que é capaz de realizar as suas atividades.
A visão que o profissional “normal” demonstra ter em relação à comparação da prestação de serviços de profissionais portadores e não portadores de deficiência é uma visão livre de concepções alienadas e estigmatizantes, ou seja, admite-se que o outro, apesar de suas limitações físicas, tem a mesma capacidade para o trabalho, pensamento que diverge das concepções gerais do senso comum, que acabam atribuindo ao portador de deficiência física uma identidade social virtual, que muitas vezes difere do que o indivíduo realmente é. No entanto, apesar dessa igualdade de relações ser afirmada nos discursos dos sujeitos participantes da entrevista, fica evidenciado na fala de alguns deles que por parte de outros funcionários o preconceito existe, a exemplo disso, temos as brincadeiras de mau gosto citadas anteriormente.
É um consenso entre os profissionais que a valorização do trabalhador em si é uma necessidade de todos, mas destaca-se que, principalmente o profissional portador de deficiência física ainda requer não só reconhecimento, mas também mais espaço dentro do mercado de trabalho, tanto na questão de vagas quanto na possibilidade de ascensão de cargos.
Conclusão
Apesar das inúmeras dificuldades que os deficientes possuem, percebeu-se que no Viveiro da NOVACAP, há uma valorização do profissional deficiente, e apesar de inúmeras queixas que mostram que o trabalho do deficiente não é tão valorizado, aos poucos o cenário do egocentrismo vai mudando, dando lugar à identificação das necessidades alheias.
O discurso analisado foi de extrema importância para a compreensão desse universo, pois muito falta para o entendimento completo acerca das limitações e até mesmo de um tratamento humanizado, que deve ser dado ao deficiente físico.